sexta-feira, 20 de novembro de 2009

LABAN, nome conhecido internacionalmente e de interesse das mais diversas áreas das ciências humanas. O sobrenome de Rudolf Laban é sinônimo de movimento; a importância de se conhecer sua vida e obra em Terapia Ocupacional ultrapassa uma necessidade acadêmica, é conhecimento de vida, de fazeres que vêm mobilizando o mundo há mais de um século.


LABAN E TERAPIA OCUPACIONAL


A Terapia Ocupacional tem como objeto de estudo a ação humana, o fazer significativo do homem em seu cotidiano, buscando compreender a complexidade dos fenômenos que envolvem este fazer (inclui análises de aspectos físicos, psíquicos e sociais, por exemplo), com objetivo de ajudar os indivíduos a alcançar autonomia e participação social.

O trabalho corporal em Terapia Ocupacional na proposta de Laban estimula a percepção, o conhecimento e domínio – com liberdade – do corpo (mente-razão/mente-emoção/corpo-sensível/corpo-mecânico) (RENGEL, Lenira Peral. Dicionário Laban. 2001), evidenciando imagem/esquema corporal e encontrando formas de variar os fatores de movimento (peso, espaço, fluxo e tempo).


Dessa forma o indivíduo encontra formas mais harmoniosas de “se mover” nas atividades cotidianas por exemplo, nos processos de recuperação em saúde e mesmo de enfrentamento/convivência da doença, e pensando de uma forma mais abrangente, nas suas relações em geral consigo mesmo, com o outro e com o mundo; um aspecto essencial de Laban é em direção ao "trânsito pelas diferenças" (GOMES, Simone. A teoria da diversidade na obra de Rudolf Laban, artista olímpico. 2007).

UMA PAUSA PARA UM POUCO DE HISTÓRIA


DEPOIMENTOS DE UMA DISCÍPULA DE LABAN


Eu tinha um conceito de espetáculo formal e bem-acabado. Eu ensaiava a criançada do meu estúdio durante um ano e não admitia falha. Tudo tinha de ser perfeito, nenhum erro para subir ao palco. A apresentação com as crianças da Maria Duschenes era uma bagunça: as mães aprontando as crianças na platéia, maquiando e correndo atrás das ilhas no palco para prender o cabelo. Eu achava o fim do mundo! Mas, ao mesmo tempo, eu via que aquilo dava uma margem imensa para espontaneidade, para a criança achar o próprio caminho.

A figura de Lisa Ullmann era marcante. Já tinha uma certa idade, mas corpo ágil, flexível e muito vivo. Ela transmitia muito amor e liberdade com a dança. Naquela época, estávamos vivendo a repressão da ditadura e pudemos sentir como aqueles movimentos labanianos funcionavam realmente no sentido de abrir e romper espaços. Tanto que o intérprete da Lisa, durante o workshop, comentou: Essa dança não é muito favorável ao regime vigente porque liberta as pessoas.

Janice Vieira, Memória de Dança em São Paulo, Centro Cultural São Paulo, 2008.



RUDOLF LABAN


Rudolf Laban (1879-1958) nasceu na Áustria; quando adolescente fez viajens ao Oriente Próximo e África do Norte, desenvolvendo gosto pela diversidade cultural. No início do século XX estudou arquitetura e pintura em Paris, aproximando-se também do teatro e dança, e anos depois mudou-se para a Alemanha, onde começou a desenvolver suas pesquisas.

Tal resgate histórico sobre Laban é rico para se perceber em que momento Laban “surgiu”, uma fase de mudanças sociais e científicas, como por exemplo, sobre as “verdades absolutas”. Neste período pós Guerras Mundiais começava-se a questionar a forma de uso do corpo na indústria, massificada, alienada.

Laban surgiu com a idéia do improviso quando tudo era milimetricamente ensaiado, decorado e executado na esfera da dança. Ele também democratizou a dança, “descendo-a“ dos palcos e levando-a até as pessoas mais simples, como da classe operária, até conseguir reunir pessoas de classes sociais, etnias, idades diferentes para dançar juntos como num grande “coral”.

Rudolf Laban atuou ainda na esfera do trabalho, ajudando os trabalhadores a se posicionarem de maneira mais adequada para o trabalho, por exemplo. E, talvez sua criação mais conhecida, o trabalho de notação gráfica do movimento, hoje denominado kinetography laban ou labanotation, é utilizado e aperfeiçoado por estudiosos do movimento em todo o mundo.

No Brasil as teorias de Laban chegaram por volta dos anos 60; três alunas suas que as trouxeram fora Maria Duschenes (SP), Regina Miranda (RJ) e Lya Meyer (no sul do País).


NA PRÁTICA...




O movimento acontece de forma que nos envolve integralmente, provoca bem-estar e alegria e mostra a totalidade da pessoa



O conhecimento prático da teoria de Laban consiste em experimentar as dinâmicas, os fatores em separado e os esforços incompletos em diversas zonas da Kinesfera, com diferente partes do corpo

Tanto a execução quanto a observação do movimento exige um longo treinamento. O especialista do movimento deve ser capaz de ver o movimento e detectar, através de seus fatores e esforços, quais são os sentimentos, idéias e intenções expressas

A importância desse treino em sequências variadas manifesta-se no enriquecimento da vida diária, pois experimentamos sensações físicas que raramente temos a chance de experimentar no dia-a-dia.

TÉCNICA LABAN
(LABAN, Rudolf. Dominio do movimento. Organizado por Lisa Ullmann; tradução de Anna Maria Barros de Vecchi. 3. ed. São Paulo : Summus, 1978.)
 
 
A seguir apresentaremos sucintamente a teoria de análise do movimento Laban. Um dos paradigmas de Laban é de que o movimento humano se constitui dos mesmos elementos nas mais diversas áreas de atividade (trabalho, arte, vida cotidiana etc.). Um de seus estudos baseou-se na idéia de que os movimentos e sua utilização valem-se de aspectos psíquicos e fisiológicos quando ocorrem, e portanto, através da análise do movimento, é possível compreender diversos aspectos subjetivos como da psiquê humana. Grandes empresas hoje se utilizam desse conhecimento em Recursos Humanos, por exemplo.

Como numa grande orquestra, Laban acredita na interrelação de movimentos do corpo com seu todo, com uma interafetação ocorrendo o tempo todo, harmonicamente ou não. A partir disso ele faz uma análise do movimento com relação a 4 elementos básicos:

1 – peso;
2 – tempo;
3 – fluência;
4 - espaço.

Tais elementos combinados gerarão determinados movimentos, que combinados a outros elementos em grau/intensidade diferentes, existência ou não de resistência, derivarão ainda novos movimentos. Laban define oito movimentos principais e seus derivados:

1 - a partir do socar -> empurrar, chutar, cutucar;
2 - a partir do talhar -> bater, atirar, chicotear;
3 - a partir do pontuar -> palmadinha, abanar, brilhar;
4 - a partir do sacudir -> roçar, agitar;
5 - a partir do pressionar -> prensar, partir, apertar;
6 - a partir do torcer -> arrancar, colher, esticar;
7 - a partir do deslizar -> alisar, lambuzar, borrar;
8 - a partir do flutuar -> espalhar, mexer, remada.

Kinesfera; dividida em:

Nível alto – movimentos realizados nas pontas dos pés ou aos pulos
Nível médio – movimentos realizados com a pessoa sentada ou de pé
Nível baixo – movimentos realizados com a pessoa deitada ou engatinhando

Quatro princípios básicos; analisar:

Espaço: o movimento é limitado por ele
Tempo: os movimentos acontecem dentro de uma regularidade rítmica
Força ou peso: movimentos feitos contra a força da gravidade
Fluência: sensação do movimento, como vivemos as experiências

Exemplo:

O que se move? Perna direita
Como se move? Movimento forte e rápido
Onde se move? Para a frente

= CHUTE


A experimentação de novas sensações é saudável e prazerosa para o físico e a mente do indivíduo, pois quando o movimento flui verdadeiramente, nós conseguimos unir o pensar com o sentir, e a intuição com a sensação. Através da Arte do Movimento, Laban propõe um resgate da movimentação espontânea e integração da mente e corpo. Dessa forma, cada pessoa pode encontrar sua própria expressão.